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  • Foto do escritorValéria Codato

A Função paterna na Psicanálise


A noção de pai no contexto psicanalítico recebe uma conotação bem particular, já que não se reduz à ideia de um genitor, tampouco a de um mantenedor econômico de sua prole. Se trata menos de um pai encarnado do que de uma entidade essencialmente simbólica. Sua presença deve registrar um lugar de alteridade, uma lei que separa o corpo da criança do corpo da mãe. Por isso, dizemos que o pai é aquele que ocupa um lugar terceiro, cuja intervenção promove a separação, o limite do gozo absoluto, a renúncia necessária para que a criança tenha acesso ao mundo da linguagem, da cultura e da vida em sociedade.

Resumidamente, é a entrada desse terceiro elemento que rompe com o idílio amoroso que marca a relação mãe-bebê nos primórdios da vida. É a operação da metáfora paterna que se assenta numa dimensão simbólica da castração, que instaura a falta e rompe com o narcisismo alienante de suposta plenitude e completude entre mãe e bebê. Papai não é mamãe, e essa diferença é marca primordial nos processos de subjetivação.

O pai é aquele que salva o filho de uma relação mortífera, de ser capturado por um engolfamento que uma presença materna sem tréguas pode causar. Ali onde a mãe consente ser faltante, castrada, onde sublinha que seu desejo está alhures, é onde o pai encontra o seu lugar. Conforme afirmava Lacan, só uma mãe pode fundar um pai! Cabe a ela transmitir um terceiro lugar entre ela e a criança, um lugar vazio que ele deve vir a ocupar à sua maneira, de modo que possa ser transmitida a lei do desejo e os limites do gozo que garantirão ao filho des-colar da relação com a mãe e decolar rumo a vida social.


“O papel da mãe é o desejo da mãe. É capital. O desejo da mãe não é algo que se possa suportar assim, que lhes seja indiferente. Carreia sempre estragos. Um grande crocodilo em cuja boca vocês estão – a mãe é isso. Não se sabe o que lhe pode dar na telha, de estalo fechar sua bocarra. O desejo da mãe é isso. Então, tentei explicar que havia algo de tranquilizador. Digo-lhes coisas simples, estou improvisando, devo dizer. Há um rolo, de pedra, é claro, que lá está em potencia no nível da bocarra, e isso retém, isso emperra. É o que se chama falo. É o rolo que os põe a salvo se, de repente, aquilo se fecha.” (Lacan, 1992/1970, Seminário 17).





INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS PARA CONTINUIDADE DO ESTUDO:

DOR, Joel. O pai e sua função em psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1991.

LACAN, Jacques. Os complexos familiares na formação do indivíduo: ensaio de análise de uma função em psicologia [1938]. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.

LACAN, Jacques. O Seminário, Livro 5: as formações do inconsciente. [1957-1958]. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.

LACAN, Jacques. O Seminário, Livro 17: o avesso da psicanálise [1969-1970]. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1992.



Escrito por Valéria Codato (@codatovaleria)



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