Por quê estudar no Instituto ESPE?
- Instituto ESPE
- 27 de mai.
- 19 min de leitura
Atualizado: 28 de mai.
Texto escrito por Renata Wirthmann.

Há anos venho buscando formas de ampliar e democratizar o acesso à psicanálise no Brasil. Esse desejo, que sempre me acompanhou como um compromisso ético e profissional, me conduziu, em 2021, a conhecer o Instituto ESPE. Ainda estávamos na pandemia, um tempo em que o isolamento parecia tornar ainda mais difíceis os encontros e as trocas que alimentam o trabalho de quem, como eu, vive da palavra e da escuta. Foi então que recebi o convite da querida colega Marina Bialer, psicanalista, para falar sobre a clínica psicanalítica com crianças em uma de suas turmas de pós-graduação do ESPE em São Paulo. Pouco tempo depois, veio outro convite: falar, em uma aula aberta transmitida pelo YouTube, sobre o impacto da pandemia nas crianças. Desde então, minha relação com o ESPE foi se estreitando e, sem que eu me desse conta, tornou-se parte importante da minha própria travessia como psicanalista. Ali encontrei um espaço de interlocução viva, um lugar de circulação de ideias e, sobretudo, um meio de acesso a milhares de pessoas que, como eu, estão comprometidas com uma formação contínua em psicanálise marcada pelo que há de mais necessário nesse campo: o encontro, a troca, a escuta.
Ainda me lembro da surpresa que senti ao perceber, por trás da tela, os mais diversos sotaques de um Brasil imenso. Eram estudantes e profissionais vindos de todas as regiões do país: Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sul, Sudeste. No meu caso, que estou aqui no Centro-Oeste, mais precisamente no interior de Goiás, na pequena cidade de Catalão, com seus pouco mais de cem mil habitantes, esse encontro teve um sabor especial. Foi como abrir uma janela a partir do meu cantinho tão amado e, sem sair de casa, apresentar meu trabalho e dialogar com todo o país. Sou pesquisadora, escritora, psicanalista, professora — mas também uma pessoa que escolheu viver no interior. E essa é uma escolha que, por muitos anos, impôs o preço do deslocamento constante para manter viva a interlocução com o campo da psicanálise. Era necessário ir aos grandes centros, especialmente Brasília e São Paulo, para seguir em contato com debates, cursos, congressos. Hoje, graças a espaços como o ESPE, esses grandes centros e os pequenos lugares do país se encontram de forma acessível e, diria mais, de forma profundamente ética. Isso não é apenas uma conquista tecnológica; é um gesto civilizatório, um verdadeiro ato de resistência diante da lógica da exclusão.
Embora existam muitas instituições oferecendo cursos online, a proposta do ESPE é singular. Sua aposta na articulação entre psicanálise, filosofia, arte e saúde ressoa o que Freud já defendia em 1927: “o conteúdo programático para o analista ainda precisa ser criado, ele precisa abarcar tanto o conteúdo das Ciências Humanas, o conteúdo psicológico, histórico-cultural e sociológico quanto o anatômico, biológico e histórico-evolutivo.” Não se trata, portanto, apenas de acumular conhecimentos, mas de atravessar uma formação que permita sustentar a complexidade da experiência humana e que se recuse a reduzir o sofrimento a diagnósticos apressados ou a patologias a serem eliminadas. Essa perspectiva atravessa todas as esferas do Instituto ESPE. Da proposta pedagógica, ancorada no rigor teórico das obras de Freud, Lacan e outros teóricos fundamentais, até a constante preocupação em enfrentar os desafios contemporâneos da clínica, o que se oferece ali não é uma simples formação técnica, mas a possibilidade de repensar a formação do analista como uma construção ética e singular. Num cenário cada vez mais marcado pela pressa, pela superficialidade e pela promessa de soluções imediatas para sofrimentos complexos, o ESPE se mantém como um espaço de resistência, afirmando a importância de um percurso formativo que se funda na experiência, na reflexão crítica e na abertura ética diante do impossível. Basta olhar a lista de professores convidados nos cursos do ESPE para perceber a dimensão desse projeto: docentes de universidades públicas e privadas de todo o Brasil, psicanalistas ligados às principais escolas de psicanálise do país, todos reunidos em torno do compromisso de construir uma verdadeira rede nacional de transmissão e formação psicanalítica. É um espaço onde professores e alunos vêm de todos os cantos do território, compondo uma rede que não apenas fortalece a psicanálise no Brasil, mas também ressignifica o que significa formar-se analista na atualidade. Essa aposta ética e política não se restringe às salas de aula ou aos encontros virtuais. O Instituto tem ampliado suas frentes de atuação, investindo na produção e na circulação de saberes que ultrapassam os limites da formação formal como podcast, canal no youtube, plataforma de cursos online, editora — a Sinthoma — e, até, peças de teatro, ampliando ainda mais as possibilidades de formação. Tudo isso faz do ESPE um vasto e importante espaço de pensamento, criação, resistência e, principalmente, de aposta na psicanálise. Em tempos tão atravessados pelo discurso da eficácia e da produtividade, escolher um percurso como o que o ESPE propõe é também escolher sustentar uma ética: a de não ceder ao apelo das soluções fáceis e rápidas, de não recuar diante da complexidade do sofrimento, de manter viva a aposta na palavra, na escuta e na invenção de novos modos de lidar com o impossível. Se você, como eu, considera que a formação do analista não pode ser reduzida a um protocolo ou a um conjunto de técnicas, mas é, antes de tudo, uma travessia ética, talvez este também seja um importante espaço de interlocução pra você também. Afinal, como bem sabemos na psicanálise, só se forma como analista quem, antes de tudo, se coloca à altura do próprio desejo. E essa é, para mim, a maior aposta que cada um de nós pode fazer na nossa própria formação.
Vou apresentar um pouco das possibilidades de fazer seu percurso através das várias portas do ESPE.
1. Youtube do ESPE
Para mim, o canal do YouTube do ESPE é uma dessas descobertas que a gente valoriza como um verdadeiro tesouro: uma fonte preciosa, inesgotável e, acima de tudo, democrática de acesso à psicanálise. Em um tempo em que o conhecimento, tantas vezes, é tratado como mercadoria, encontrar um espaço que oferece conteúdo gratuito e de alta qualidade me parece um gesto ético de enorme relevância. Ali, estudantes, profissionais e interessados em psicanálise encontram não apenas informações, mas a possibilidade real de participar de um debate vivo, crítico e rigoroso sobre os temas que atravessam a teoria e a clínica.
O que mais me encanta é que os eventos e conteúdos do canal não estão soltos, como acontece em muitos espaços virtuais. Eles se articulam diretamente com a proposta formativa e ética do Instituto ESPE, mantendo aquele compromisso tão caro à psicanálise: o de não simplificar o sofrimento humano, o de sustentar a complexidade da formação, o de abrir espaço para a palavra. A variedade de materiais é impressionante. Entre aulas abertas, seminários, conferências e cursos introdutórios ministrados por psicanalistas e pesquisadores de diferentes regiões do país, o canal oferece um percurso que vai desde os fundamentos da psicanálise freudiana e pós-freudiana até discussões atuais sobre a clínica contemporânea, a saúde mental, a educação, a sexualidade e as questões sociais mais emergentes.
Outro ponto de destaque é a possibilidade de interação direta, em tempo real, entre os participantes e docentes. E é preciso dizer: muitas dessas vozes, desses professores que participam dos eventos, são profissionais a quem dificilmente teríamos acesso em outros contextos. De repente, pela tela, nos vemos em interlocução com nomes que antes pareciam distantes, quase inalcançáveis. Esse tipo de encontro, mesmo mediado pela tecnologia, produz algo de vivo e de raro, que nenhum material gravado sozinho seria capaz de oferecer. E o mais admirável é que tudo isso é oferecido sem custo algum. O acesso ao canal do ESPE no YouTube é completamente livre; não há inscrição paga, nem aquelas barreiras sutis que muitas vezes nos fazem desistir antes mesmo de começar. É um espaço aberto, um convite genuíno à escuta e à reflexão. E eu vejo nessa escolha uma coerência admirável com a ética que orienta a própria psicanálise: a de apostar no sujeito, de sustentar a transmissão do saber não como um privilégio, mas como um gesto de responsabilidade diante do Outro.
Para quem, como eu, acredita que a formação não se encerra nunca e que a transmissão da psicanálise precisa ser feita com seriedade, mas também com generosidade, o canal do ESPE no YouTube é um desses lugares aos quais a gente sempre volta — porque cada vez que se abre um vídeo, uma aula, uma conferência, a experiência se renova e algo novo pode, de fato, acontecer.
2. Podcast - ESPEcast
Seguindo essa aposta tão necessária de democratizar o acesso à psicanálise, me deparei também com o ESPEcast, o podcast oficial do Instituto ESPE. E confesso que, para mim, ele é mais do que apenas um podcast; é um espaço de respiro em meio ao excesso de discursos prontos e respostas fáceis que circulam por aí. O ESPEcast leva a psicanálise para além dos muros institucionais e das formalidades acadêmicas, fazendo aquilo que, no fundo, sempre esteve no cerne da prática analítica: colocar a palavra em circulação, provocar questões, tocar o que é do inconsciente e trazer a psicanálise para o centro dos debates mais urgentes do nosso tempo.
Sob a condução de Daniel Omar Perez, psicanalista, filósofo e professor universitário, os episódios ganham uma densidade rara. Daniel conduz cada conversa como quem sabe que a palavra, mesmo atravessada pelo impossível, pode abrir brechas de saber e, quem sabe, provocar aquele deslocamento subjetivo que só a boa escuta e a boa interlocução podem produzir. O que se sustenta ali é a seriedade ética da prática analítica, sem renunciar à complexidade dos temas e, ao mesmo tempo, sem elitismos ou barreiras acadêmicas que afastem os ouvintes.
O que mais me impressiona no ESPEcast é essa abertura responsável: a palavra circula livremente, mas sem perder a ancoragem ética que a psicanálise exige. Os episódios estão disponíveis gratuitamente nas principais plataformas de streaming e redes sociais, permitindo que qualquer pessoa — daquelas que estão dando seus primeiros passos na psicanálise até as mais experientes — possa ter acesso a conteúdos de alta qualidade. Importante lembrar: democratizar não é banalizar, é abrir espaço para a escuta, sustentar a complexidade e recusar o empobrecimento dos discursos que se pretendem totalizadores.
Para mim, a formação continuada é sempre uma forma de lembrar que a psicanálise não está feita, que sua transmissão se dá nesse movimento incessante entre a palavra e o silêncio, entre o saber e o não-saber, entre a angústia da falta e a invenção de novos modos de existir. É, em última instância, uma aposta no que ainda pode ser dito — e, mais que isso, no que ainda pode ser escutado.
Nessa perspectiva, Daniel Perez conduz cada episódio como quem convida à travessia, não para oferecer respostas prontas, mas para abrir novas perguntas. É essa ética da falta que orienta o ESPEcast: provocar questões, sustentar o vazio onde o saber total falha, recusar a tentação de fechar o que, por estrutura, deve permanecer aberto, para, assim, sermos levados a pensar e nos implicar nas grandes questões que atravessam a vida psíquica, a cultura, a política, a sociedade e os desafios cotidianos da clínica.
3. Plataforma de cursos ESPEcast
Em sintonia com a proposta de ampliação da transmissão da psicanálise, o Instituto ESPE lançou a sua plataforma de ensino online, também chamada ESPEcast. E é curioso perceber como, apesar de compartilharem a mesma inspiração ética e teórica, o podcast e a plataforma ocupam lugares distintos e, ao mesmo tempo, complementares nessa travessia que é a formação de um analista. Cada um deles responde a um momento e a uma disposição do sujeito: de um lado, a escuta mais livre, introdutória e provocadora de questões; de outro, o aprofundamento sistemático, a aposta no percurso mais longo e exigente.
O podcast do ESPE, como já comentei, cumpre um papel precioso na abertura do debate público, levando a psicanálise para a esfera da cultura, da política, da sociedade, sem perder de vista a seriedade que essa prática exige. É um espaço de circulação de ideias, de encontros improváveis, de aproximação com temas complexos que, tantas vezes, não encontram lugar no discurso público. A palavra ali circula de forma leve, mas nunca superficial.
Já a plataforma ESPEcast foi concebida como um espaço mais estruturado, um ambiente de ensino online voltado à formação continuada e aprofundada em psicanálise. É como se fosse uma extensão do que a sala de aula sempre teve de melhor: o rigor teórico, a escuta atenta, o debate crítico, agora potencializados pela possibilidade de reunir, em um mesmo espaço virtual, professores e estudantes de todas as regiões do país — e, por que não, de fora dele. Na plataforma, o aluno encontra cursos completos, módulos temáticos, aulas gravadas, materiais complementares e uma curadoria cuidadosa de conteúdos elaborados por psicanalistas e professores de referência.
A proposta de uma plataforma é a de convidar o participante a se implicar e a entrar de fato em um processo formativo que exige do aluno uma posição ativa em que é ele que decide a sequência e o tempo que irá dedicar aos seus estudos. Os conteúdos estão disponíveis na plataforma e poderão ser costurados e articulados de modo singular por cada um.
Na plataforma, é possível percorrer caminhos que vão dos conceitos fundamentais da psicanálise até discussões avançadas sobre a clínica, a teoria e as grandes questões sociais que nos atravessam hoje. E o mais interessante é que, mesmo quem já tem uma formação sólida encontra ali espaço para continuar pensando, para reler conceitos à luz dos impasses contemporâneos, para manter viva a posição de quem sabe que a formação, na psicanálise, é um processo que não se completa nunca.
Para mim, essa é a grande qualidade da plataforma: ela se coloca como uma via de acesso à formação permanente, sem perder de vista que o que está em jogo, no fim das contas, é muito mais do que a transmissão de um saber. É a sustentação de um desejo de saber que se sabe incompleto, um desejo que permanece em movimento e que, justamente por isso, segue capaz de se reinventar diante dos desafios que a clínica e a vida em sociedade nos impõem todos os dias.
4. Editora Sinthoma
Outro pilar que me aproximou ainda mais próxima do ESPE é a Editora Sinthoma. E não falo apenas como leitora, mas também como alguém que teve o privilégio de integrar esse espaço como autora. Organizei um livro dedicado à clínica psicanalítica com crianças e adolescentes, e essa experiência me permitiu vivenciar de dentro a seriedade, o compromisso ético e a delicadeza com que a editora conduz cada etapa da publicação. Há uma aposta clara na circulação da palavra como forma de transmissão e de abertura para o novo — não apenas para repetir o que já foi dito, mas para colocar em movimento aquilo que ainda precisa ser dito, pensado, escutado.
A Sinthoma, em plena sintonia com a proposta formativa do Instituto, vai muito além de reeditar obras já consagradas. Seu catálogo é atravessado por uma inquietação criativa, um desejo de abrir espaço para novas vozes, para novas leituras da psicanálise que se arriscam a enfrentar as questões mais candentes do nosso tempo.
A proposta editorial da Sinthoma é a disposição de sustentar um catálogo que não se fecha em círculos restritos, acadêmicos ou institucionais, mas que busca criar pontes, abrir interlocuções amplas, fazer a palavra circular onde, muitas vezes, a escuta é mais necessária. E é exatamente essa a experiência que tive ao organizar o livro sobre a clínica com crianças e adolescentes: abrir espaço para que diferentes autores e perspectivas se encontrassem, mantendo vivo o debate, sem perder de vista a ética da escuta e a singularidade de escrita e proposta teórico-clínica de cada autor convidado.
Essa prática editorial, para mim, é uma extensão do próprio trabalho clínico e formativo. Os livros da Sinthoma produzem movimento, convidam à reflexão, provocam deslocamentos. E, talvez por isso, sejam também uma forma de lembrar que a formação de um analista não se dá apenas nos limites da teoria ou da técnica, mas na posição que assumimos diante do mundo, através, por exemplo, da escrita.
5. Teatro e Psicanálise Para mim, não há como pensar a psicanálise desvinculada das artes, da filosofia, da política e de tantos outros campos que atravessam o humano. E não falo disso como um ideal teórico distante, mas como algo que precisa, de fato, ser vivido e sustentado. É exatamente essa proposta de formação que reconheço no ESPE — uma proposta que não apenas se proclama nos discursos institucionais, mas que se cumpre concretamente, nas escolhas, nas parcerias e nas práticas. Um exemplo claro disso é o apoio oferecido a produções teatrais dirigidas por Antonio Quinet, como as peças Hilda e Freud e Freud e o Homem dos Ratos.
Esse encontro entre uma instituição voltada à formação psicanalítica e a arte em sua manifestação mais direta é uma extensão necessária da própria concepção de transmissão que a psicanálise propõe. Afinal, a psicanálise lida a partir da arte, permite transmitir o texto psicanalítico mantendo algo do enigma e do indizível, como o real que insiste em escapar a qualquer tentativa de captura ou totalização do saber.
Quando uma instituição patrocina e incentiva expressões artísticas que têm a psicanálise como eixo temático, reafirma uma compreensão fundamental, que sempre me pareceu incontornável: formar-se analista é, antes de tudo, sustentar uma posição ética diante do desconhecido, abrir-se ao que há de mais singular, de mais estranho e, muitas vezes, de mais desconcertante no sujeito e no mundo. E se há um espaço que convida a essa abertura radical, é o da arte.
As escolhas de Antonio Quinet para as peças teatrais são um exemplo vívido desse entrelaçamento. Ao dramatizar casos clínicos históricos e episódios fundamentais da vida e da obra de Freud, o teatro não apenas encena conceitos, mas os faz ressoar no corpo da linguagem e da cena. O palco se torna, assim, um espaço privilegiado onde o desejo, a falta e o impossível de ser dito ganham corpo e voz, criando uma espécie de “outro cenário” em que temas tão caros à clínica psicanalítica se desdobram diante do público — e, sobretudo, diante do futuro analista.
Essa aproximação entre arte e formação não é uma invenção tardia. Freud já reconhecia que os poetas e dramaturgos haviam descoberto, muito antes da psicanálise, verdades fundamentais sobre a alma humana. E Lacan retoma essa ideia com toda a sua radicalidade, afirmando que a função da arte é justamente fazer ver o real onde o saber falha, sustentando que há uma afinidade estrutural entre o trabalho do artista e a posição do analista: ambos lidam com o vazio, com a ausência de garantias, com aquilo que resiste a qualquer domesticação conceitual.
Quando o ESPE incorpora a arte como dimensão fundamental de sua proposta formativa, convida, de fato, cada um de nós a deslocar-se de uma posição puramente teórica para uma posição ética. Reafirma que formar-se analista é também aprender a deixar-se afetar pela palavra poética, pela cena trágica e cômica, e reconhecer, na arte, uma via legítima de elaboração e de invenção diante do impossível, diante do real.
No fundo, é disso que se trata: sustentar a ética da escuta e da criação, sem a qual nenhum analista pode, de fato, ocupar o seu lugar. Onde houver um resto, um furo, um silêncio denso de sentido — é ali que a psicanálise, assim como a arte, pode operar.
6. Pós-graduação Por onde começar a estudar psicanálise? Essa é uma pergunta que escuto com frequência e que, confesso, também já me fiz. Há uma espécie de ansiedade inicial em encontrar o “ponto certo” de entrada, como se existisse um caminho traçado, uma sequência ideal de passos a seguir. A verdade é que não há uma única e certeira porta de entrada — e, muito menos, uma porta de saída. Quem se aproxima da psicanálise logo percebe que entrar nesse percurso é aceitar um convite para a travessia, para circular sem rumo fixo, sem mapa garantido e sem a promessa de uma chegada. É um consentimento a se perder e, ao mesmo tempo, a se encontrar de forma sempre inesperada. Não se pode determinar o percurso porque, como bem lembrou Lacan, “o desejo, para se afirmar como verdade, envereda por um caminho em que, sem dúvida, só consegue fazê-lo de uma maneira que chamaríamos de singular” (Seminário 10, 1962-63/2005).
Pensando nessa lógica de percurso — nunca reto, nunca definitivo — o Instituto ESPE abraçou a proposta de oferecer uma variedade admirável de cursos de pós-graduação em psicanálise. Cada um desses cursos tem seu foco, sua direção própria, mas todos mantêm um ponto em comum: a aposta de que a formação do analista é, acima de tudo, um caminho a ser construído, não um caminho já dado. Esses programas são pensados para proporcionar não apenas uma compreensão profunda da teoria e da prática psicanalítica, mas para colocar o sujeito em movimento, em constante elaboração, sempre em confronto com a ética da própria formação.
E o mais interessante é que essa proposta se materializa em percursos diversos, que vão ao encontro dos diferentes modos de desejar e de se implicar na formação:
• Fundamentos da Psicanálise: Teoria e Clínica
• Psicanálise com Crianças e Adolescentes: Teoria e Clínica
• Clínica Psicanalítica Lacaniana
• Psicanálise, Arte e Literatura
• Psicanálise: Da Clínica à Cultura
• Toxicomania, Psicanálise e Atenção Psicossocial
• Psicopatologia, Psicanálise e Clínica Contemporânea
• Psicologia Hospitalar e Saúde: Atuação Multiprofissional
• Psicopatologia da Infância e da Adolescência
• Filosofia da Psicanálise, Psicologia e Psiquiatria
• Transtornos Alimentares, Psicanálise e Cultura
Por que tantos caminhos possíveis? Porque a formação do analista não pode ser uma trilha única. Cada percurso é um convite para que cada um invente a sua própria formação, de acordo com o desejo e a ética que o orienta. Cabe a cada sujeito escolher — ou, talvez, ser escolhido — por aquilo que ressoa em sua história, que toca seu desejo e que o convoca a ocupar um lugar singular.
Afinal, para operar como analista, não basta repetir fórmulas ou se deixar conduzir por roteiros prontos. É preciso encontrar o próprio estilo, sustentado não por identificações, mas por esse ponto enigmático que Lacan chamou de “desejo do analista”. E se há algo que me inquieta — e, ao mesmo tempo, me orienta — é justamente essa exigência de singularidade. Jacques-Alain Miller foi preciso ao dizer: “Se fosse preciso designar um critério do ser analista — Deus me livre disso! — eu diria então que seria a intolerância à identificação. Um psicanalista não quer semelhantes, quer apenas diferentes.” E é por isso que Lacan, em sua conhecida provocação, pôde dizer: “Façam como eu, não me imitem” (apud Miller, 2009, p. 19-20).
A formação em psicanálise carrega essa marca de impossibilidade: não há transmissão plena, não há caminho seguro, não há um saber que possa ser entregue pronto. Como afirmou Lacan em 1969, “a psicanálise não se transmite como qualquer outro saber”. Ela exige de cada um a invenção do seu próprio percurso, uma reinvenção contínua, tanto da psicanálise quanto de si mesmo diante dela. Não há roteiro porque o próprio ato de se formar é, por excelência, um ato de criação.
Diante dessa proposta, não surpreende que Lacan tenha afirmado que nenhum analista pode dar por encerrada a sua formação. Não há ponto final, não há travessia completada. Há, isso sim, uma prática permanentemente atravessada pela falta, por esse “não saber” que move e mantém viva a experiência analítica. Como escreveu em sua Proposição de 1967, “é esse o efeito que lança sua sombra sobre a prática da psicanálise – cujo término, objeto e até objetivo revelam-se inarticuláveis” (Lacan, 1967/2003).
7. Graduação Um desdobramento relevante do projeto formativo descrito até aqui foi a criação da ESPD — Escola Superior de Psicanálise e Direitos Humanos, a Faculdade do ESPE, sediada em Ribeirão Preto, em 2024. No Brasil, os cursos de pós-graduação lato sensu, como as especializações mencionadas anteriormente, devem ser ofertados por instituições de ensino superior (IES) devidamente credenciadas pelo Ministério da Educação (MEC). Nesse contexto, a ESPD, instituição de ensino superior criada pelo Instituto ESPE, cumpre esse papel: chancela e valida academicamente os cursos de pós-graduação lato sensu ofertados pelo ESPE. A ESPD encontra-se devidamente credenciada junto ao MEC, garantindo que todas as especializações sigam os parâmetros legais e acadêmicos exigidos, assegurando a regularidade e a validade dos certificados emitidos.
Tal estrutura não apenas responde a uma exigência normativa, mas também amplia as possibilidades de ingresso na formação em psicanálise. Embora a graduação em Psicologia não seja requisito obrigatório para a formação psicanalítica, constitui, para muitos, uma via possível e frequentemente escolhida. Como se sabe, um número significativo de psicanalistas possui formação inicial em Psicologia, o que também corresponde à minha trajetória acadêmica.
Nessa perspectiva, a ESPD passou a oferecer o curso de graduação em Psicologia, além dos cursos de Direito, Agronomia e Administração, com a proposta de que a formação superior constitua não apenas um requisito formal, mas uma possibilidade concreta de inserção no campo profissional. A instituição define sua missão como a de promover uma formação que conecte os estudantes ao mercado de trabalho, possibilitando a construção de trajetórias profissionais qualificadas.
Para a consecução desse objetivo, os cursos de graduação organizam-se com uma ênfase significativa na formação prática, desde o primeiro semestre. A ESPD estabelece convênios com instituições nas quais os estudantes possam realizar a articulação entre teoria e prática de maneira contínua. Parte da carga horária de cada disciplina ocorre em sala de aula, enquanto outra parte é destinada a visitas técnicas e atividades de observação participativa em campo, promovendo a aproximação precoce com os contextos de atuação profissional.
Esse modelo formativo visa assegurar que os estudantes desenvolvam competências teóricas e práticas de maneira integrada, em consonância com as exigências contemporâneas da formação superior e das políticas educacionais vigentes.
Por que Escolher o ESPE para sua Formação em Psicanálise?
Agora que compartilhei com você um pouco do que fui descobrindo nesses últimos anos de aproximação com o ESPE, me sinto inteiramente à vontade para fazer um convite que, para mim, uma aposta ética. Convidar você a escolher o ESPE como espaço de formação é propor uma travessia que convida, a cada passo, à invenção de novas formas de percurso de formação do analista sustentados por uma ética da escuta e da singularidade.
Se o sintoma, como nos ensinou Lacan, é uma invenção singular diante do impossível, o ESPE se apresenta como um espaço vivo para esta invenção, onde o saber não se cristaliza, mas permanece em movimento constante, em direção àquilo que insiste como impasse e como pergunta. É esse o convite que transmito a você: não recuar diante da dificuldade, não ceder à tentação dos atalhos fáceis, e sustentar, na própria formação, a ética que, mais adiante, será levada para sua prática clínica.
O Instituto ESPE tem se consolidado no Brasil como uma das principais referências nacionais na formação de psicanalistas que buscam, para além dos títulos e certificações, uma travessia ética, clínica e social. Em tempos em que a formação analítica, por vezes, é banalizada por ofertas de cursos rápidos e por promessas de carteirinhas, o ESPE reafirma o compromisso com uma psicanálise séria, rigorosa, comprometida com a complexidade do sujeito e com os desafios da atualidade.
Um aspecto que eu não poderia deixar de destacar é a atenção do instituto com importantes e extremamente importantes questões do nosso tempo como: negritude, toxicomanias, gênero, políticas públicas e saúde mental. Tudo isso é debatido sem concessões à superficialidade e sem patologização, negligência ou preconceito.
Outro aspecto fundamental se refere a atenção aos alunos, analistas em formação teórica. Cada um é acompanhado em seu percurso singular e valorizado através do incentivo a reflexão crítica através de suas produções de textos ao final de cada módulo nas pós-graduações, por exemplo, ou nos debates das aulas presenciais ou síncronas on-line.
Para responder melhor a pergunta, por que Escolher o ESPE como parte de sua Formação em Psicanálise, fiz um checklist das principais razões:
1. Democratização do ensino: O acesso à psicanálise no ESPE começa com possibilidades gratuitas e, conforme as condições financeiras dos alunos, pode avançar para propostas pagas, sempre com diferentes possibilidades de valores e formas de pagamento.
2. Excelência acadêmica: Os cursos de pós-graduação são reconhecidos pelo MEC, com currículos abrangentes e atualizados.
3. Corpo docente de referência: Professores e psicanalistas renomados, com ampla experiência clínica e acadêmica, compõem o quadro docente.
4. Metodologia inovadora: As formações combinam aulas teóricas, práticas clínicas, grupos de estudo e até módulos internacionais.
5. Acessibilidade: Há opções de cursos presenciais, online ao vivo e gravados, atendendo a diversas necessidades e realidades.
6. Compromisso social: O ESPE desenvolve projetos e cursos voltados para questões sociais urgentes, promovendo uma psicanálise engajada e transformadora.
7. Ambiente acolhedor: O acompanhamento individualizado e o incentivo à escuta singular de cada aluno criam um espaço de formação profundamente humanizado.
Eu poderia concluir dizendo que essa é a melhor escolha que você pode fazer. Mas, coerente com tudo o que aprendi na psicanálise, prefiro apenas te convidar a fazer a sua própria escolha — e a sustentar, desde já, a ética que essa decisão carrega. Porque, no fundo, é assim que a verdadeira formação começa. E segue. E nunca se encerra.
Referências
FREUD, Sigmund. A questão da análise leiga: diálogo com um interlocutor imparcial (Posfácio). In: ______. A questão da análise leiga e outros textos (1926-1929). Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. (Obras completas, v. 20).
LACAN, Jacques. O Seminário, livro 10: A angústia (1962-1963). Texto estabelecido por Jacques-Alain Miller. Tradução de Maria do Carmo Aguiar e Sérgio Laia. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.
LACAN, Jacques. Proposição de 9 de outubro de 1967 sobre o psicanalista da Escola. In: ______. Outros escritos. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.
LACAN, Jacques. O Seminário, livro 17: O avesso da psicanálise (1969-1970). Texto estabelecido por Jacques-Alain Miller. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1992.
MILLER, Jacques-Alain. A orientação lacaniana: o ser e o um. Aula de 14 de janeiro de 2009. Inédito em livro.
BRASIL. Resolução CNE/CES nº 1, de 6 de abril de 2018. Estabelece as Diretrizes e Normas para a oferta de cursos de pós-graduação lato sensu, em nível de especialização. Diário Oficial da União: Brasília, 09 abr. 2018. Disponível em: https://abmes.org.br/colunas/detalhe/1744. Acesso em: 23 maio 2025.
BRASIL. Sistema e-MEC: Consulta de Instituições e Cursos de Educação Superior. Ministério da Educação. Disponível em: https://emec.mec.gov.br/. Acesso em: 23 maio 2025.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE MANTENEDORAS DE ENSINO SUPERIOR (ABMES). Cursos de pós-graduação lato sensu podem ser ofertados por IES credenciadas para graduação. 2021. Disponível em: https://abmes.org.br/colunas/detalhe/1744. Acesso em: 23 maio 2025.
GOVERNO DO BRASIL. Perguntas Frequentes: Educação Superior — Pós-graduação lato sensu e stricto sensu. Ministério da Educação. Disponível em: https://www.gov.br/mec/pt-br/acesso-a-informacao/perguntas-frequentes/educacao-superior-1/pos-graduacao-lato. Acesso em: 23 maio 2025.
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