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Crime e castigo: um apelo ao pai?


Desde meu ingresso numa instituição penitenciária, me deparei com o fato de existirem pessoas que cometeram crimes cuja estrutura psíquica não se apresentava fora do campo das neuroses. Ao escutar os presidiários pude perceber que, diferentemente daquilo que o imaginário social apregoa, em sua maioria não são psicopatas ou perversos, mas parecem revelar com seus atos um apelo à função paterna, numa estrutura neurótica obsessiva.


No texto “Criminosos em consequência do sentimento de culpa”, Freud (1916) escreveu brevemente sobre os criminosos atribuindo um alto grau de sentimento de culpa em busca de punição que antecede a determinados crimes, contrariando a idéia de que um supereu fraco seria o único responsável por atos anti-sociais. Ao introduzir uma maneira de pensar a criminalidade a partir de elementos como o supereu e o sentimento de culpa, Freud abriu-nos a possibilidade de pesquisar a motivação do crime sob novas bases teóricas, dentre as quais considero incluir o fracasso da função paterna na estrutura obsessiva.


Também o conceito de dívida simbólica, outra face da culpa tão bem apontada no caso “Homem dos ratos” por Freud (1909) e retomada por Lacan (Seminário 6) como essencial na constituição da neurose obsessiva, pode nos levar a refletir sobre a necessidade de “pagar a dívida” por meio da pena que é atribuída ao criminoso, que é visto como devedor para com a sociedade. A figura do juiz, como um terceiro que sanciona o criminoso, também pode ser incluído como um personagem importante dessa trama que, num apelo ao Pai, une a transgressão e a lei.


Nem todos os crimes podem ser pensados a partir dessa lógica, pois nem todo criminoso busca o castigo por culpa. Contudo, podemos concluir que os atos criminosos passíveis de uma compreensão e uma apreensão simbólica, são aqueles que se expressam como uma repetição silenciosa, associada à pulsão de morte, ao traumático. Força demoníaca que, sob as vozes do supereu, impulsiona o sujeito ao crime e ao castigo.


Dessa forma, baseada na escuta analítica oferecida aos detentos de uma instituição penitenciária, (com)vivência esta que me proporcionou questionamentos e reflexões tanto teóricas quanto práticas, parti de estudos já realizados e de teorias já estabelecidas, para desenvolver uma pesquisa de Mestrado onde pude articular certos crimes como um apelo à função paterna em estruturas obsessivas.






INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS PARA CONTINUIDADE DO ESTUDO:


http://www.ppi.uem.br/arquivos-para-links/teses-e-dissertacoes/2010/valeria


 

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