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O declínio da função paterna e suas consequências psíquicas

Foto do escritor: Valéria CodatoValéria Codato

Atualizado: 5 de nov. de 2021


Lacan já nos advertira de que a carência do pai não deve ser buscada no papel que a figura paterna ocupa nos lares. Ao considerarmos o pai como metáfora, como um significante (metáfora paterna) que substitui outro significante (desejo da mãe), como um operador simbólico, devemos situar seu fracasso e seu declínio em outro lugar.

Em sua função, um pai sempre fracassa, já que nem tudo pode ser metaforizado, nem todo gozo pode se articular a um significante. Contudo, perante as mudanças socioculturais que vem sendo anunciadas e até mesmo testemunhadas nas últimas décadas, é nosso dever refletirmos sobre as consequências psíquicas do declínio da função paterna nas estruturas sociais.


Charles Melman (2003) enfatiza que o ordenamento do mundo outrora se dava pelas grandes narrativas (religiosas, ideológicas e políticas) num mundo verticalmente organizado pelo patriarcado. Em decorrência das grandes revoluções ocorridas nos últimos séculos (Industrial, sexual, tecnológica, etc), mudanças sociais trouxeram inegáveis consequências tanto à vida coletiva quanto à constituição subjetiva. Mas, devemos considerar que onde há progressos, há também retrocessos que precisam ser analisados.


Ao se referir ao “Homem sem gravidade”, Melman (2003) argumenta que um novo sujeito aparece na cena do mundo, pretensiosamente sem amarras, sem tradições, desvencilhado do passado, mas também desorientado frente ao seu futuro. “O céu está vazio” e toda e qualquer autoridade se encontra esfacelada.

As respostas buscadas no Outro – campo da cultura e tesouro dos significantes – até então encarnado por aqueles que se colocam como nossas referências primordiais (pais, professores, Deus) hoje estão relativizadas. Cada um pode crer naquilo que lhe convém, inclusive no que diz respeito aos fatos cientificamente comprovados.

Argumentos também presentes no pensamento de Lebrun (2004) que traz reflexões muito pertinentes sobre um mundo em que se pretende que todos sejam irmãos, sem pais – “Um mundo sem limites”.


Diante da experiência do desamparo social vivenciado na atualidade, onde as respostas são buscadas no “Dr. Google”, não estaremos mais suscetíveis ao fascismo, terrorismo, fanatismo, obcecados por um mundo totalitário, sem furos, sem diferenças, sem alteridade?

Afinal, como já nos dizia Lacan, todos buscamos um mestre que confirme nosso lugar no mundo. E, desamparados, corremos o risco de buscarmos líderes e mestres que nos levem ao pior.





INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS PARA CONTINUIDADE DO ESTUDO:

Mena, Luiz (Org.) "O Infamiliar na contemporaneidade: O que faz Família hoje?" Salvador: Ágalma, 2021.

Lebrun, J-P. Um mundo sem limites: ensaio para uma clínica psicanalítica do social. Rio de Janeiro, Companhia de Freud, 2004

Melman, C. O homem sem gravidade: gozar a qualquer preço. Rio de Janeiro, Companhia de Freud, 2003.

Dufour, D-R. A arte de reduzir as cabeças: sobre a nova servidão na sociedade ultra liberal. Rio de Janeiro, Companhia de Freud, 2005.



 

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